À boleia da fama da lampreia – estadias no Minho
À boleia da fama da lampreia entre o litoral e o interior do Minho. Uma viagem a não perder.
Conquistar o forasteiro pelo estômago é um dos apanágios do Minho, com um sem número de especialidades à prova e que abre apetite para voltar. De Esposende até Melgaço, a lampreia é sempre um bom pretexto para se pôr à estrada e explorar a gastronomia e beleza paisagística do Minho, do litoral ao interior. Mas apenas entre janeiro e finais de abril, pois temperaturas ditam a época do peixe em forma de enguia, proveniente do Rio Minho ou do Rio Cávado. Quando as temperaturas começam a subir, desaparece da ementas, destacando-se outros pratos para apreciar. Se é um verdadeiro apreciador de lampreia não deixe de marcar na sua agenda estas datas, entretanto conheça muitas outras iguarias que lhe apresentamos e acredite pois vai valer a pena uma estadia perlongada.
Texto de Sara Oliveira
A cozinha tradicional portuguesa inspirado conhecidas receitas, às quais se juntam sobremesas de comer e chorar por mais, como é o caso da afamada lampreia de ovos, servida em festas e obrigatória no Natal. Além de inspirar algumas lendas que ligam, por exemplo, a vila raiana de Melgaço a Arbo, no lado espanhol, que tem na sua bandeira e brasão uma lampreia dourada, símbolo dos peixes e do ouro que, anteriormente, existiam muito na região.
Quem continua a preferir a lampreia do rio, o ideal será confirmar de antemão se o prato está disponível e até mesmo reservar, sabendo que há outras boas alternativas a justificar a viagem e até pernoitar.
De Esposende até Viana do Castelo
A riqueza natural faz com do pequeno concelho de Esposende um cantinho de Portugal especial, ao qual acresce a simpatia das suas gentes e a gastronomia. Ao longo da orla marítima, desde a foz do rio Neiva, em Antas, até Apúlia, não faltam motivos de interesse para explorar a área, com um enquadramento e uma biodiversidade únicos no nosso país.
Conhecida atualmente como zona de veraneio, a Apúlia guarda na sua baía a presença romana na Península que a história registou. Os moinhos de vento desta praia são um dos motivos de interesse a visitar. São moinhos construídos em granito e xisto, de planta circular e formato cónico, de forma a aproveitar da melhor forma o vento disponível.
Em Apúlia, para além do sal e do pescado, a exploração do sargaço foi uma das atividades agro marítimas de maior expressão. Testemunho de uma época em que a recolha desse produto era uma faina importante são as barracas, montadas directamente sobre a duna, e onde eram guardados os utensílios da apanha. O sargaço, recolhido de junho em diante até ao final do ano, e seco ao sol, era empregue como fertilizante orgânico das terras.
Fão e Ofir são igualmente destinos de fim de semana ou férias. O casco histórico da Vila de Fão remete para os tempos em que a construção naval era marca indelével do país. A Igreja do Bom Jesus de Fão é local de peregrinação e, ao lado da Igreja da Misericórdia, o Museu de Arte Sacra também vale a visita. O pinhal encaminha para a praia de Ofir com areia fina e dunas que guardam histórias de verão para verão.
No meio de tanta natureza e tradição, a gastronomia aconchega o forasteiro com belos repastos. Na época da lampreia, esse é o prato mais procurado e não faltam locais de referência para a saborear. O Restaurante Mó, na Travessa Vasco da Gama, em Esposende, está entre os recomendados e, quem sabe, avisa que convém reservar. A comida é caseira é vai além do peixe afamado – à bordalesa ou assado– , num ambiente despretensioso – e, por isso, sem site ou redes sociais–, mas bastante agradável. Tradicionalmente minhota, a cozinha serve cabidela, rojões, cabrito, papas de sarrabulho, bacalhau e polvo assado na brasa. Como sobremesa, destaque para o leite-creme queimado com chila e amêndoa.
Com um conceito mais requintado, na pitoresca vila da Apúlia, em frente ao mar, com vista para os moinhos, o Restaurante Camelo tem o peixe selvagem fresco e o arroz de robalo como atração principal. Sem tirar o prazer de um cabritinho assado no forno à maneira da avó ou um sempre suculento arroz de sarrabulho no tacho.
O Tio Pepe, em Fão, conta com uma clientela fidelizada, fruto de mais de quatro décadas de existência, sempre com mesas postas para quem se possa juntar. O robalo escalado na brasa e o arroz de corvina são as estrelas da carta, mas o pernil no forno e o arroz de pato são igualmente apreciados.
Não muito longe, na Quinta da Barca, com vista para o Rio Cávado, no Sra. Peliteiro há lampreia quando é tempo dela, mas são outras iguarias que fazem crescer água na boca. Algumas estão na carta desde o início, como a tagine de vaca, a moqueca de gambas e o polvo, outras são mais recentes como as papas de sarrabulho, o lombo de pescada com broa no forno, vazia maturada, ou a tira de costela de vaca no forno.
De Valença até Melgaço
No último reduto a norte de Portugal, a Fortaleza de Valença, candidata a Património Mundial, ergue-se como uma das principais fortificações militares da Europa, frente a Tui, e espaço de convivência galaico-minhoto, comercial e turístico por excelência. Um bom local para iniciar um belo passeio entre Valença e Melgaço, onde a lampreia dá mote a semanas gastronómicas na altura própria, não faltando outras propostas para saborear por terras famosas também pelo fumeiro em Alvarinho.
Ainda em Valença, a Adega Regional tem como outras opções bastante aplicadas o bacalhau à casa ou na brasa, a parrilhada, a costela, a picanha, o polvo grelhado e o cabrito no forno. Não muito longe, no segundo domingo de cada mês, no Terreiro de São Bento, em Passos, freguesia de Cerdal, realiza-se uma feira típica, com o mercado de lavradeiras e produtos biológicos caseiros muito procurados por quem vai de fora.
Viajando para o interior, a par do rio Minho rumo à nascente, em Monção, onde antes se assistiram aos combates entre os reinos de Portugal e Castela – e a muralha não deixa esquecer– , encontram-se agora terraços e miradouros onde apetece parar e apreciar. Além das igrejas catalogadas como monumentos históricos que se podem visitar, vale a pena passar pelas Caldas de Monção, bastante procuradas pelas águas medicinais. O Palácio da Brejoeira, em Pinheiro, junta-se ao guia, com a idílica lagoa artificial, que é um enorme espelho de água abraçado pela vegetação abundante que o circunda.
Aberto o apetite, o restaurante Sete à Sete está entre as recomendações. Quando esta na época, a lampreia e o sável figuram na lista, mas é certo que o Cabrito à Moda de Monção nunca falta. À sobremesa, não há como resistir a propostas regionais, como de freira, leite creme, maçãs assadas, doce conventual da região e rabanadas (apenas ao fim de semana).
Se Melgaço é a meta, o melhor é ir sem pressa. Primeiro porque é o destino de natureza mais radical do país e percorrer os passadiços nas margens do Minho são sempre uma boa sugestão.
No centro, há muito para ver também a pé, através de ruas e ruelas estrelas que descem a partir do castelo, com a sua Torre de Menagem para visitar. Próximo, ficam as ruínas arqueológicas da Praça da República, a Igreja Matriz e a Igreja da Misericórdia.
O Museu do Cinema Jean Loup Passek, com espólio doado pelo crítico de cinema francês e antigo diretor do departamento cinematográfico do Centro Georges Pompidou em Paris, exibe uma exposição permanente dedicada ao pré-cinema, e acolhe a Sala do Novo Mundo, onde se podem ver e manusear réplicas de brinquedos óticos. No auditório podem ser visionados filmes relacionados com a temática das exposições temporárias. Aqueles que se interessam pelos produtos regionais, o Solar do Alvarinho é a melhor montra de promoção, com venda ao público em geral.
Em termos de restauração, para além da lampreia, não faltam espaços onde se come bem. A Adega Regional Sabino tem o cabrito do monte assado e o bacalhau com broa como especialidades, a par da lampreia, o salmão e o sável do rio Minho, assim como o Arroz de Cabidela, que são pratos que exigem encomenda prévia.
Longe da vista e da estrada nacional, num lugar recatado, na sala rústica e com uma extensa garrafeira, a Adega do Sossego inclui lampreia (à época), cabrito assado no forno, posta de vitela, costeletão de boi e várias receitas de bacalhau no cardápio. Caseiros, o pudim e o toucinho da Adega, o leite creme, pêra bêbada e as rabanadas estendem as refeições com agrado.
Descanso entre jornadas
FeelViana Hotel
De Esposende a Melgaço, consoante a rota eleita, juntam-se propostas hoteleiras para fins de semana ou férias perfeitos. O Feelviana Sport Hotel , no pinhal da Praia do Cabedelo, na margem sul do Rio Lima, garante dormidas de sonho, a par de um SPA e estúdio de Yoga e Pilates como programa diário.
Quinta de Valverde
Mais a norte, a escassos dez minutos a pé do centro da cidade, a Quinta de Valverde , no monte de Santa Luzia, dispõe de uma piscina de água salgada de onde se vislumbra todo o centro histórico, a foz do Rio Lima e o Atlântico. Constituída por sete apartamentos de diferentes tipologias, com variadas mordomias, permite animais de estimação para quem não se consegue separar do fiel amigo.
Moinhos de Chinchila
Na região do Alvarinho, a quatro quilómetros do centro de Monção, a Quinta Moinhos da Chinchila , na aldeia de Longos Vale, abre as portas a um refúgio de campo perfeito, garantindo calma e aconchego, sem descurar o bom gosto da decoração. A casa é composta por três quartos, dois deles com cama de casal e outro com duas camas de solteiro, contando com um amplo espaço ao ar livre com jardim.
Melgaço Alvarinho Houses
Igualmente no meio rural, em Paderne, a Casa Clérigo insere-se no espaço de agroturismo Melgaço Alvarinho Houses a 4 km do centro da Vila de Melgaço e a 20 minutos de carro do Parque Nacional da Peneda-Gerês. De linhas simples, construída em pedra tipicamente minhota, contrabalançada com o calor da madeira que confortavelmente aconchega no interior, tem tipologia T2 dividida em dois pisos, ideal para casais ou famílias que anseiam por tranquilidade.
Contactos
Onde comer
Morada : Rua Brás de Abreu Soares 222 – Praia do Cabedelo, Viana do Castelo Tel.: 258 330 330 Preço: Desde 125€ consoante a tipologia do quarto e época do ano
Morada : Estrada de Santa Luzia, S/N, Ursulinas, Viana do Castelo Tel.: 912 125 599 Preço: Desde 95 euros/ noite
Quinta dos Moinhos da Chinchila
Morada : Caminho do Engenho nº 250, Monção Tel. : 251 648 312/ 963 851 096 Preço : Desde 250 euros/ noite
Morada : Lugar de Pinheiro, Paderne, Melgaço Tel.: 918 685 595 Preço : Desde 145 euros/ noite
Onde comer
Restaurante Mó Morada : Tv. Vasco da Gama 14, Esposende Tel. : 253 961 535
Restaurante Camelo Morada : R. do Facho 3 14, Apúlia Tel.: 912 539 666
Restaurante Tio Pepe Morada : Rua dos Bombeiros Voluntários 4, Fão Tel.: 253 981 510
Sra. Peliteiro Morada : Quinta da Barca, Esposende Tel. : 936 438 384
Adega Regional Chamosinhos Morada : Rua de Chamosinhos 53, Valença Tel. : 251 839 043
Restaurante Sete à Sete Morada : Conselheiro João Cunha 55, Monção Tel.: 251 652 577
Adega Regional Sabino Morada : Largo Hermenegildo Solheiro 46, Melgaço Tel.: 251 404 576
Adega do Sossego Morada : Avenida do Peso 1179, Melgaço Tel.: 913 359 807